Sobre as realidades espirituais, muitos se questionam sobre céu, inferno ou purgatório. Querem seguir a Cristo apenas naquilo que os convém e, ainda assim, desejam o céu sem ter que pagar o preço por ele.
Até aí, nada de errado, pois o querer é direito de todos. Acontece que, no fundo, nenhum de nós somos merecedores do céu e, na maioria das vezes, nem mesmo do purgatório. Se conquistamos este último é por pura misericórdia de Deus, que nos alcança com a sua graça e nos fortalece em nossa luta para tentar corresponder ao seu amor infinito.
O erro está em não enxergar, ou não querer enxergar, que temos um dever de gratidão a esse amor manifesto na cruz, por meio de seu Filho único, Jesus Cristo. Essa manifestação suprema de amor deveria nos compelir a nos sujeitarmos a vontade de Deus, ainda que questionemos o sentido de algumas "imposições" eclesiásticas (um parêntese: Cristo é a cabeça da Igreja).
Justas ou não (segundo critérios humanos), mesmo que encontremos dificuldades insuperáveis no seu seguimento, deveríamos passar a vida tentando viver estes ensinamentos, confiantes no auxílio da graça divina.
É certo que cada ser humano encontra suas dificuldades particulares. Por isso, desistimos tão facilmente de confrontar os nossos defeitos, optando por assumi-los como imutáveis.
Ainda que o fossem, o amor maior deve nos impelir a lutar diariamente contra os nossos defeitos. Se não é possível passar uma vida sem determinados deslizes, é certo de que podemos passar um dia, um mês, quiçá um ano, sem cometer determinados pecados em honra ao Cristo que por amor a nós morreu na Cruz.
Cada batalha vencida não deve ser acolhida com orgulho ou vaidade, pois se as vencemos é por pura misericórdia de Deus que nos socorre com as graças oportunas. Mas, antes, devem ser oferecidas em louvor e agradecimento a Deus por nos dar forças para superá-las, ou como sacrifício pelas almas do purgatório e em reparação dos pecados de toda a humanidade.
É certo, também, que nada de impuro entra no céu. Por isso, grande sinal da imensa misericórdia divina é a existência do purgatório, pois nos dá a oportunidade de purificarmos as nossas faltas para que, um dia, por essa mesma misericórdia, possamos gozar da presença beatífica de Deus, vendo-O face a face, desfrutando da alegria eterna.
Mas, aceitar a nossa humanidade a ponto de julgar não valer a pena lutar deveria ser motivo de vergonha para nós. Pior que isso é querer gozar da presença de Deus, sem esforço pessoal. Ainda que a salvação seja ato de extrema misericórdia, pois esforço humano nenhum é capaz de sequer se aproximar do imenso sacrifício de Cristo na cruz, é nosso dever fazer a nossa parte para, no mínimo, tentar honrá-lo por esse amor grandioso.
Salvação não é mérito, é misericórdia, mas não prescinde do nosso esforço. Aceitar que somos pecadores a ponto de nos embrenharmos ainda mais na lama dos nossos pecados é desonrar o sacrifício divino.
Devemos desejar, ao menos, que Deus nos acolha no purgatório, o que para a maioria da humanidade já é motivo de imensa alegria diante do mínimo esforço que somos capazes de fazer. O que não podemos é ignorar o sacrifício de Cristo, vivendo conforme a nossa própria conveniência.
No fim, o que salva é o Amor. Muito mais o amor divino do que o nosso próprio. Para mim, só peço uma coisa, que Deus me dê a graça de amá-lo mais e mais, e amando-O, eu possa amar a todos os meus irmãos.
É fato que, ainda que eu ame, eu possa cometer deslizes terríveis a ponto de não merecer nem mesmo o purgatório. Mas, ainda que eu seja condenado ao inferno, que eu possa amar Deus de lá, pois se esse for o meu destino não será por injustiça divina, mas pelos meus próprios esforços que me conduziram a tal condenação. Seja qual for o meu destino, que Deus me permita amar sempre!
Teologicamente, sabe-se que no inferno há ausência total de amor, já que no homem condenado ao inferno há uma revolta constante contra Deus.
No entanto, se esse for o meu destino, me atrevo a pedir a Deus um pouquinho mais da sua misericórdia, me permitindo reconhecer a minha miséria e, ainda assim, devotá-lo amor. Que eu saiba separar as escolhas humanas da justiça divina e amá-lo onde quer que eu esteja.
Pode-se questionar que amor que não corresponde totalmente ao amor do outro não é amor. Mas o amor humano sempre foi e sempre será limitado. Por isso, que me reste um pouquinho de amor para continuar amando-O, apesar das minhas limitações.
O amor não nos faltou na cruz, portanto, que nos esforcemos constantemente para corresponder intensamente a este amor, amando-o sempre, em qualquer condição!
Eduardo Faria
Missão Combatentes do Bom Combate
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