Daí nos questionamos se não seria demasiadamente exagerado da nossa parte uma postura conservadora, querendo evitar todo tipo de erro ou pecado, mortal ou venial. Uma vida "mais ou menos", com retidão de intensão e coração sincero já seria suficiente. Faltar a uma missa ou cometer um pequeno deslize seria moralmente aceitável, já que muitos fazem o mesmo.
Poderíamos, ainda, apelar facilmente para a misericórdia. Afinal, cremos em um Deus misericordioso e bom, pleno em amor e compaixão, não é mesmo? Assim, vamos relativizando a nossa fé!
O momento atual, em que tudo é muito intenso e superficial, corrobora para esse tipo de postura. A gama de informações, conhecimento e oportunidades encontram-se em quantidades jamais vistas na história. Juntando a isso a pseudo liberdade adquirida nos últimos anos, associada a perda de valores familiares e humanos, sutilmente vamos nos afastando de Deus.
Queremos viver a fé ao próprio modo, alheios às exigências que o seguimento de Cristo nos propõe. Para nós, basta cremos, rezarmos de vez em quando, e ir tocando a vida sem muito compromisso, pois estaríamos vivendo uma "espiritualidade" minimamente aceitável.
Ocorre que o seguimento de Cristo é exigente. Não o fosse, Ele mesmo não teria dito: "se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me" (Lc 9, 23b)
A fé em Deus exige decisão, exige atitude. Muito se alega que a Igreja determina ou impõe determinadas regras ou comportamento, mas muitos se esquecem que grande parte do que é teoricamente "imposto" pela Igreja é exigência do próprio Cristo nos evangelhos.
No livro sagrado não raras vezes encontramos exigências relativas ao perdão, ao amor ao próximo e aos próprios inimigos. Em outro ponto, Cristo critica o adultério e prega a indissolubilidade do matrimônio. Por fim, temos uma regra de vida pautada nos mandamentos divinos: amar a Deus sobre todas as coisas, não tomar se santo nome em vão, guardar domingos e festas, honrar pai e mãe, não matar, não percar contra a castidade, não roubar, não levantar falso testemunho, não desejar a mulher do próximo, não cobiçar as cosias alheias.
Frequentemente criticamos a Igreja, quando esta nada mais é do que a guardiã da fé. Determinadas regras não foram impostas por ela, mas pelo próprio Cristo como já relatado. Este mesmo Cristo instituiu a autoridade papal, orientou a confissão dos pecados e pediu a perpetuação do seu sacrifício eucarístico.
Quando nos aprofundamos na nossa fé começamos a entender que é necessário um seguimento radical do Evangelho, pois é a Cristo que seguimos e não aos homens. Cabe pontuar que radicalidade não é fundamentalismo, mais ir à raiz da nossa fé.
Caminhando para o final desta reflexão, quero pontuar dois exemplos bíblicos de fé e radicalidade:
Em Gênesis, o Senhor vendo que havia crescido a maldade do homem na terra, e como os projetos do seu coração tendiam sempre para o mal, teria se arrependido de ter criado o homem e se decidido a exterminá-lo da face da terra (Gn, 6, 5-7). Mas ocorre que "Noé encontrou graça aos olhos do Senhor" (Gn 6, 8). Assim, por esse único homem justo, Deus volta a acreditar na humanidade, salvando a criação do dilúvio.
O mesmo ocorre em Gênesis nos capítulos 18 e 19. Sabendo da iniquidade de Sodoma e Gomorra, Deus resolve destruir essas cidades e revela seu plano a Abraão (tamanho o grau de amizade que Abraão adquiriu com Deus): "o Senhor disse então: Acaso poderei ocultar a Abraão o que vou fazer?" (Gn 18,17). Então, Abraão roga a Deus para que não destrua Sodoma e Gomorra se lá se encontrar 50 justos. Deus promete não destruir a cidade caso encontre esses justos no local, mas Abraão sabia que isso seria um devaneio. Assim, Abraão vai "negociando" com Deus e reduzindo esse número até a quantidade de 10 e Deus promete não destruir a cidade caso lá se encontre 10 justos. Imagino que Abraão tenha ficado envergonhado diante de Deus em apelar para uma quantidade inferior, já que todo ser humano deveria ser justo, e Deus acaba destruindo a cidade salvando apenas Ló e suas duas filhas. Talvez se Abraão tivesse insistido em apelar por apenas um homem justo, no caso Ló, Deus não teria destruído a cidade, tamanho o valor de um homem justo diante de Deus!
Recorro a esses exemplos para concluir que somos chamados a ser justos diante dEle, dessa forma encontraremos graça aos Seus olhos. Ainda que sejamos o único homem justo na face da terra, não devemos nos incomodar em nadar contra a correnteza, em ser diferentes. Não é a homens que devemos agradar e sim a Deus. É Ele quem nos chama, é a nós que Ele entregou o seu filho em sacrifício para nos salvar. Nada mais justo do que sermos grato e seguirmos a Cristo de forma radical, como Ele nos pede, como Ele nos orienta nas páginas do Evangelho. Importa agradar a Deus e não aos homens (cf. Gl 1,10). Não sejamos cristãos pela metade, não sejamos mornos (cf. Ap 3.16), Deus nos quer por inteiro!
Eduardo Faria
Missão Combatentes do Bom Combate
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